domingo, 30 de outubro de 2011

ABOLICIONISMO versus ESPECISMO & BEM-ESTARISMO

Ontem, a propósito do chamado projeto do "bem-estar" animal do Sr. Tripoli, começamos a tratar de uma importante questão, que ainda confunde a muitos de nós e que é muito importante esclarecer.
Até para que cada um adote e escolha conscientemente a sua posição.
Há uma distinção FUNDAMENTAL a ser feita:
- Achamos que os animais são seres com direitos "menores" do que os direitos dos homens?
Se achamos isto, então é justo que as pessoas de bom coração acreditem que eles devem sofrer "menos", ou o "mínimo possível", enquanto continuam a se subordinar à primazia do homem.
Neste caso, desde que sejam "eutanasiados" sem desconforto, ou que sejam "abatidos com menos sofrimento", ou que "sofram o mínimo possível" nas experimentações a que são submetidos são reivindicações consideradas adequadas.
É a isto que se dá o nome de "bem-estarismo".
Um exemplo desta posição é a posição do projeto do deputado, ou as tentativas feitas por certas ongs de promover "menos sofrimento" na hora do assassinato de um animal, por ser da "conveniência" dos homens (seja p.ex. para controlar o número de animais abandonados, seja para que sejam abatidos para o consumo de seus corpos, seja para que sejam usados em "experiências em favor da humanidade" etc...)
- Se achamos que os animais são seres com idênticos à vida e à dignidade que os homens, então necessariamente as coisas mudam radicalmente de figura. A isto se chama abolicionismo.
Nesta caso, é inconcebível que se procure apenas "fazê-los sofrer menos", enquanto continuam sendo mortos, abusados, esquartejados, dissecados, explorados em circos.
A concepção aqui é necessariamente RADICAL, e por força da lógica, se opõe inteiramente ao bem-estarismo e à exploração animal.
Não é possível adotar simultaneamente as 2 perspectivas.
Uma está em estado de absoluta tensão e oposição em relação à outra, por princípio.
Assim como não se combateu a escravatura achando que os escravos deveriam ser apenas "menos escravos" ou "escravos melhor tratados" ou "escravos em tempo parcial" __ o que se opõem, pela lógica, ao FIM da ESCRAVIDÃO, que seria certamente mantida, ainda que mascarada de "boazinha" __, não se pode igualmente manter 2 posições irreconciliáveis em termos dos direitos dos animais.
Ou eles TEM direitos, são SUJEITOS com direitos à própria vida e estatuto jurídico que lhes garanta a sua própria condição de seres sencientes, ou então são OBJETOS a serviço do homem, quando então este passa a ter o direito de usá-los e explorá-los, "desde que com o menor sofrimento possível", para que a sociedade humana continue a se servir deles segundo a disposição e critérios mais convenientes aos homens.Isto necessariamente traz consequências, que é preciso conhecer:
Se você é bem-estarista, qual seria o problema de o animal ser sacrificado num CCZ se estiver doente, desde que ele tome a devida anestesia? NADA obrigaria a que fosse tratado e curado e sua vida mantida.
Se você é bem-estarista, então necessariamente acredita e aceita que possam ser mantidos por toda a vida em gaiolas nos laboratórios e universidades, desde que "a serviço da ciência" e de que "não sofram desnecessariamente" ou sejam submetidos a procedimentos sem anestesia e analgesia.
Se você é bem-estarista, qual seria o problema em vestir pele animal, desde que "fossem mortos com carinho"?
Qual seria o problema de comer seus corpos, desde que fossem mortos "com carinho" ou sem dor"?
Qual seria o problema de mantê-los em jaulas, desde que fossem grandes e limpas? Ou em aquários, se fossem razoavelmente grandes e tivessem companhia de uma fêmea, por exemplo? E por aí vai.
O curioso é que estas são considerações que NINGUÉM pensaria em sequer cogitar se tratassem de pessoas, e não de animais.
Esta é uma REFLEXÃO FUNDAMENTAL para todos nós.
O conceito chave aqui se chama LIBERDADE e DIREITO, categorias que a sociedade vem se preocupando até aqui em assegurar __ e de forma MUITO PRECÁRIA __ aos humanos.
Reflita sobre isso. Pense nisso com intensidade e defina a sua posição.
Até para que você não seja ENGANADO ao assinar uma petição ou ao escolher de que lado se você se posiciona, nesta batalha que é hoje a batalha de muitos, e razão para fortes dissenções no âmbito da "proteção animal".
Norah

2 comentários:

  1. Norah, bastante oportuna sua postagem, é sempre bom esclarecer às pessoas sobre o que exatamente estão apoiando. Porém, tenho dúvidas se os gestores internacionais da WEEAC tem clara esta diferença explicada por vc, pois no site do evento está publicada a Declaração Universal de Direitos Animais (http://www.weeac.com/declaracioacuten-universal-de-los-derechos-de-los-animales.html), que como sabe é totalmente bem-estarista. Por outro lado, posteriormente ao ver a Declaração publicada, recebi algumas mensagens promovendo a WEEAC e atribuindo-lhe um caráter abolicionista. Qual é exatamente a proposta da WEEAC? Não conhecia este evento até este ano e ao ver a Declaração no site fiquei receoso em participar e apoiar. Abraço.
    Maurício Varallo, ativista em SP

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